“Disciplina, atenção e interesse: esse é o diferencial das garotas.”

Cristiano Santos tem 39 anos, é faixa preta e professor de jiu-jitsu, judô e instrutor de muay thai. Integrante do grupo Gold Team Brasil, ele conta nesta entrevista as diferenças entre essas três artes marciais, além de falar sobre respeito, participação e integração feminina nesses esportes, e sobre as principais diferenças entre homens e mulheres no aprendizado e no condicionamento físico, tendo como foco principal as mulheres, maior público em suas aulas.

Mayara: Quando você decidiu que queria trabalhar com artes marciais?

Cristiano: Eu decidi praticar artes marciais quando tinha 21 anos e trabalhava como segurança. Para o meu trabalho era necessário que eu aprendesse. Tenho amigos meus que trabalham em algumas clínicas psiquiátricas e resolveram fazer jiu-jitsu para trabalhar com os pacientes. Enfim, eu fui gostando e resolvi continuar, até que peguei a faixa roxa e virei instrutor, mas tudo isso sem largar a minha antiga profissão de segurança. E no final acabei largando o emprego, comecei a trabalhar com jiu-jitsu e judô e fui me aperfeiçoando. Recentemente comecei a me aprofundar no muay thai, me tornando instrutor. Fiz muitas avaliações, não pode ter nada bagunçado (risos). Tenho documentação para isso e hoje sou professor, registrado na Federação Paulista de jiu-jitsu e na brasileira também.

Mayara: Quais as principais diferenças entre o muay thai, o jiu-jitsu e o judô?

Cristiano: O jiu-jitsu é uma luta de chão, foi criada para imobilização e defesa. Virou um esporte para a competição, tanto que existem vários campeonatos, de várias categorias. Esse é um esporte completamente surpreendente, porque aquele que você olha e acha que é o mais fraco, pode ganhar do que você acha o fortão.

O muay thai é bem diferente. Com ele você aprende a lutar em pé, a defender e atacar. É um esporte com vários traumatizantes: chutes, socos, cotoveladas, joelhadas e por aí vai...É muito bom pra defesa pessoal e hoje está bem popular pra estética e condicionamento físico. As mulheres têm procurado bastante.

O judô é uma luta para por pra baixo, a diferença está na queda. Você aprende a derrubar.

Então temos aí as diferenças: No judô você aprende a derrubar, no jiu-jitsu a imobilizar e no muay thai os traumatizantes.

Mayara: Suas aulas de muay thai são mais frequentadas por mulheres. Quais diferenças entre alunos e alunas, você notou com relação ao aprendizado e à forma de lutar?

Cristiano: O que mais diferencia a mulherada dos rapazes é a força física, querendo ou não o homem tem mais força. Mas o que eu gosto em dar aulas para as meninas - é que percebo que elas são mais interessadas e têm mais disciplina. São bem mais atenciosas com o aprendizado, o professor explica e elas prestam atenção de verdade, tanto no muay thai, quanto no judô. Dou aula de judô para crianças e lá, as meninas se destacam mais do que os meninos. Então a diferença pra mim é a disciplina, a atenção e o interesse. Tem também a força de vontade, quando elas estão focadas, fazem os treinos inteiros, começam e não param.

Mayara: Você teve algum problema para conseguir integrar as meninas nas aulas, já que antes suas aulas tinham mais homens do que mulheres?

Cristiano: No começo sempre tem. Tanto dos meninos, quanto das meninas. No início elas tinham medo de chutar forte e se machucarem, ou dar um soco mais forte, essas coisas...Mas, quando eu comecei a dar aulas de muay thai, ninguém sabia nada, todo mundo era novo, então eu consegui fazer um trabalho legal. Deu pra igualar bem, eles aprenderam juntos. Hoje em dia é mais difícil quando chega gente nova, tenho que fazer um trabalho diferenciado com os alunos mais adiantados, pra eu conseguir ensinar para os novatos os golpes mais básicos.

Mayara: Fale um pouco sobre regras e sobre o respeito nas artes marciais.

Cristiano: Deve-se ter respeito pelo tatame, pelo professor e pelos colegas de treino. Nós temos um respeito muito grande pelo tatame, porque é nele onde a gente aprende todas as técnicas e ensinamentos. Fazemos um gesto de respeito, um cumprimento sempre que entramos e saímos dele. E com os colegas e o professor a mesma coisa, todos nos respeitamos muito. Precisamos desse respeito, é fundamental para que o treino seja bacana, produtivo e para a convivência de todo mundo, né? (risos). Tem aluno que chega aqui e acha que vai ser bagunçado, mas vê que é rigoroso, que vai ter que seguir à risca. Ou gosta e fica, ou vai embora. Isso traz a disciplina também. Não importa a arte marcial, o respeito tem que estar presente. E quanto às regras, elas são muito importantes também. Aqui a gente não “cria” galo de briga. Para fazer esse tipo de esporte, você precisa ser calmo. Ao contrário do que muita gente pensa, pessoas que praticam qualquer tipo de arte marcial não são violentas. Precisa ter muita disciplina e saber seguir as regras, e não usar os ensinamentos pra fazer bobagens.